A Identidade Brasileira
Estudando a América Latina, o cientista político e diplomata francês Alain Rouquié qualificou a região como o "Extremo-Ocidente":
(...) não é de admirar que o conjunto dos países latino-americanos tenha proposto à ONU em 1982, contra o sentimento dos países afro-asiáticos recentemente descolonizados, que a organização homenageasse Cristóvão Colombo e a "descoberta" da América. Diferentemente da África e Ásia, esse continente não é, afinal, uma província, por vezes distante, certamente, mas sempre reconhecível, de nossa civilização que afogou, recobriu, absorveu os elementos culturais e étnicos preexistentes?
A América Latina é fruto da Europa num duplo sentido. Culturalmente, ela se caracteriza pelo predomínio do catolicismo, implantado pelos colonizadores ibéricos. Politicamente, ela compartilha valores ocidentais definidos pelo iluminismo. O Novo Mundo representa, nesse sentido, uma continuidade do Velho Mundo.
Podemos dizer que existe uma América latina hispânica e uma América Latina Portuguesa. Na América hispânica, especialment eo México e na América Andina, temos uma fortes presença da cultura précolombiana, que não desapareceu u foi absorvida pela civilização espanhola. No Brasil, ao contrário, os elementos culturais e étnicos preexistentes foram absorvidos, num processo que mescolou assimilação e aniquilação.
A língua portuguesa, a tradição católica e os valores políticos ocidentais convivem, na sociedade brasileira, com as diversas influências africanas e indígenas. O mito do "encontro das três raças", sobre o qual se ergueu a identidade nacional, reflete e ao memso tempo distorce o processo de violência física e cultural que moldou a nação.